O sentimento de ser exposta

Você, quer seja homem ou mulher, já está cansado de ler e ouvir histórias sobre assédios sexuais. Só que mais cansativo que ler essas matérias, é vivenciar e ser parte dessas estatísticas. Eu não preciso nem colocar os dados de quantas mulheres são estupradas por dia, só no nosso país, ou de quantas mulheres são assediadas por minuto, porque isso você também já deve saber. 

Agora deixa eu te contar uma história. Simples. E que aconteceu ontem mesmo. 
São Paulo. 5h da tarde. Um sol de matar. Preciso atravessar a cidade para chegar na minha faculdade e por estar um dia ensolarado e quente, aproveito para colocar uma roupa leve. Nada demais. O basicão: shorts e camisa. A falta de tecido nas minhas pernas piorou ainda mais o caminho.

Até chegar na estação de metrô, eu faço uma caminhada de 15 minutos. Como são tensos para mim esses minutos!! É um caminho simples, nada de entrar aqui e virar ali, mas eu ando por uma avenida e me desespero todos os dias quando uma buzina escandalosa de um caminhão dispara, quando o passageiro coloca a cabeça para fora do carro e grita algum comentário, quando o sinal fecha e dá mais tempo para eles olharem para mim... 

E se por algum momento, você me julgou por eu estar de shorts... acho que você precisa rever algum pensamento seu aí dentro. Falo com propriedade que não importa a roupa que você estiver vestindo. Já passei por aquela avenida escondendo quase que tudo de mim (porque estava com frio, é claro) e os mesmos comentários aconteceram. 

No meio dessa avenida tem um ponto de ônibus que passa o ônibus que eu preciso pegar, mas as vezes ele demora um pouco e eu fico tão constrangida por ficar lá, parada na avenida, enquanto aqueles carros passam, que eu prefiro mudar todo o meu planejamento e andar mais um pouco e fazer o caminho pelo metrô mesmo. 

Me pergunto até quando vamos precisar mudar o caminho por medo de ouvir os "elogios" (como eles dizem). A auto-estima vai lá embaixo e talvez, o primeiro pensamento que se passa é a auto condenação, procurando onde está o erro em você. 

Por que eu estou falando disso? 

Além de ser um assunto que devemos sim falar toda hora (quem sabe um dia resolve) e por eu ter passado por isso ontem mesmo (e quem sabe hoje de novo), foi porque arrumando o layout do blog e tirando os gadgets desnecessários, achei mais que importante manter o da Campanha Chega de Fiu-Fiu que tenho aqui no blog há anos.

ilustração de Dika Ribeiro

A Campanha Chega de Fiu-fiu nasceu em 2013 e é uma campanha contra o assédio sexual organizado pelo Think Olga. Se você ainda não conhece o projeto vale muito a pena acessar e se engajar ainda mais nesse assunto tão importante. 


Eu descobri que agora a campanha tem um Mapa que você pode visualizar as histórias das meninas que já escreveram para contar essas péssimas experiências. Esse mapa é uma ferramenta aberta, em que qualquer pessoa pode contar sua história. 

As histórias podem ter as seguintes categorias: assédio físico, assédio verbal, ameaça, intimidação (stalking), atentado ao pudor (masturbação em público), violência doméstica, estupro e exploração sexual.


Eu não quero te deixar com medo, mas pesquise a região próxima da sua casa e nas ruas que ficam perto de onde você estuda e trabalha. O resultado pode não ser muito bacana, lembrando que aparecerão os resultados só das meninas que compartilharam suas histórias pela plataforma do Chega de Fiu-fiu. Nisso a gente elimina várias outras vítimas que não conhecem esse mapinha e permanecem em silêncio. 

** Lembrando que o Mapa Chega de Fiu-fiu não é uma denúncia oficial. Para denunciar você deve discar o 180 (Delegacia de Defesa da Mulher e Central de Atendimento à Mulher). Você pode também mandar seu depoimento para Secretaria de Políticas para as Mulheres através dos e-mails: ouvidoria@spm.gov.br // spmulheres@spmulheres.gov.br


Se quiser, faça um comentário e deixe aqui sua opinião a respeito do post. 
Beijos, Nana. 






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